O QUE SE PODE OU NÃO DIZER NA ESCOLA? UMA ANÁLISE DISCURSIVA
Lilian Branquinho (PG/UNIFRAN-PROSUP/CAPES)

Esta pesquisa se beneficia dos estudos do Círculo de Bakhtin, que estabelece que o sujeito enuncia a partir de uma dada esfera de atividade humana, por isso seu discurso é determinado por esta mesma esfera, manifestando as ideologias que circulam nas mesmas. Nosso objeto de análise são discursos polêmicos presentes na mídia, em especial a digital, em que se tematizou a adequação ou não de livros usados como suporte para atividades didáticas de leitura e estudo da língua. No ano de 2009, o governo de Santa Catarina distribuiu para as escolas públicas de educação básica o livro “Aventuras Provisórias”, do escritor Cristovão Tezza. Este livro foi entendido como inadequado para a faixa etária a que foi destinado por conter conteúdo pornográfico, referente a descrições de relações sexuais. Considerando os discursos da polêmica como enunciados respostas, nosso objetivo é fazer uma análise qualitativa do corpus, a fim de investigar o discurso sobre o que se pode dizer na escola, refletindo sobre os valores ideológicos que são materializados e refratados na esfera escolar. A nossa hipótese é que a polêmica gerada em torno da literatura de Tezza se deve pelo deslocamento do enunciado literário para a esfera escolar, ou seja, ao transitar para a esfera escolar o texto literário foi considerado inadequado, com caráter sexual, em virtude da incompreensão de seu conteúdo, de sua composição. Desse modo, acreditamos que exista uma política do dizer presente na escola, que pode ser entrevista na intolerância encontrada nos enunciados da polêmica.