A NECESSIDADE DA RELATIVIZAÇÃO DE FRONTEIRAS CATEGORIAIS NO ESTUDO DA LINGUAGEM. A EVIDÊNCIA DAS GRAMATICALIZAÇÕESEM PORTUGUÊS.
Maria Helena de Moura Neves (UPM; UNESP-Araraquara / CNPq)
O tema gramaticalização tem tido extraordinário destaque nos estudos linguísticos, pelo que oferece de interesse ao tratamento científico da gramática da língua. Do ponto de vista teórico, os estudos discutem, prioritariamente, a natureza da gramaticalização (processo ou paradigma), seu alcance (apenas lexical ou extensivo ao construcional), seu domínio de investigação (diacronia, sincronia ou pancronia). Fica acoplada a esta última decisão uma discussão crucial sobre a unidirecionalidade, ou não, da gramaticalização, o que calibra seu ponto de partida e seu ponto de chegada. Paralelamente se desenvolvem inúmeros estudos descritivos sobre o fenômeno em línguas particulares, tarefa que tem tido grande inserção nas universidades brasileiras, com um contingente significativo de trabalhos produzidos. Nesse tratamento, inúmeras questões têm sido invocadas: princípios, mecanismos, parâmetros, estágios, alcance, identificação, ligação com variação e mudança. No estudo que aqui se apresenta, de filiação teórica funcionalista moderada, o objetivo é defender a necessidade da relativização de fronteiras categoriais no estudo da linguagem, tomando-se como evidência as gramaticalizaçõesem português. A análise se faz segundo a seguinte orientação: define-se como campo de análise uma gramática de interfaces, para colocar em foco deslizamentos funcionais que se verificam na língua em função; explicita-se como conseqüente a redefinição contínua da relação entre formas e funções e a readaptação contínua do sistema lingüístico (organização categorial e codificação gramatical); como corolário vem o caráter emergencial da gramática, tema constantemente invocado nos estudos funcionalistas. O foco nos deslizamentos assenta-se no que se considera uma noção crucial, a de que as entidades linguísticas se configuram com zonas difusas na significação, com superposições funcionais e com imprecisão de fronteiras categoriais, o que tem de estar na base da consideração do que seja o sistema lingüístico em cada momento de sua (re)organização.
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