A NATIVIZAÇÃO DO PORTUGUÊS EM MOÇAMBIQUE
Gregório Firmino (Universidade Eduardo Mondlane – Maputo/Moçambique)
As diferentes perspectivas com que se analisa a situação linguística dos países africanos pós-coloniais requerem um reexame, uma vez que os pontos de vista sobre a coexistência das línguas ex-coloniais e das línguas autóctones têm sido influenciados por considerações ideológicas que, embora possam ser justificadas pela postura anti-colonial, falham em reconhecer o estado actual do cenário linguístico. Passadas cinco décadas desde o advento das independências em África, verifica-se que as línguas ex-coloniais expandiram o seu espaço e papel sociais, quer como entidades simbólicas, quer como meros meios de comunicação. De facto, tem-se argumentado que as línguas ex-coloniais se encontram num processo de mudanças estruturais e sócio-simbólicas, de tal modo que novas funções e novos usos estão sendo criados estas línguas. Elas não permaneceram como entidades estáticas, tendo adquirido significados simbólicos e traços estruturais novos que eventualmente as elevam a um estatuto de variedades linguísticas com um valor próprio. Tendo em conta estas considerações, a comunicação pretende discutir o caso do português em Moçambique e argumentar que, em consequência do tipo da sua implantação histórica desde o período colonial, esta língua está num processo de nativização que a torna, marcado por mudanças estruturais e sócio-simbólicas, que a tornam, entre outros, um dos legítimos recursos linguísticos que os cidadãos podem manipular nas suas actividades diárias |