POLÍTICA LINGUÍSTICA NO CONTEXTO TIMORENSE
Benjamim de Araújo e Corte-Real (UNTL)

A escolha do português como uma das duas línguas oficiais de Timor-Leste destaca-se como um acto natural, em que a língua camoiana é um dado sobejamente maduro no auge de uma penosa e elasticada marcha de afirmação histórico-cultural e política do povo timorense.
Atribuindo ao tétum – que é, de entre os 16 identificados, o idioma indígena mais difundido no território – igual estatuto constitucional ao da língua de Camões, a Assembleia Constituinte, hoje o Parlamento Nacional do novo país, providenciou, há pouco mais de dois anos, a melhor e mais inteligente solução para a ‘questão linguística’ levantada no território.
Após a libertação do seu território nacional, o timorense está novamente em teste; desta vez, num engajamento mais subtil. Em seu auxílio será a sua capacidade de caução e coerência para consigo próprio enquanto povo que, condenado a assistir o dizimar da sua população, teimou acreditando no legado dos seus antepassados e em si próprio: a sua auto-afirmação. A língua obvia-se como factor estratégico de relevo nesse processo.
Aborda-se nesta conferência o papel da língua portuguesa como elemento indispensável para recuperar e preservar a identidade histórica, cultural e política dos timorenses, neste momento em que o país se torna independente, após vinte e quatro anos de dominação Indonésia. Neste contexto, a língua portuguesa – elevada ao estatuto de língua oficial ao lado da língua nacional (o tétum) – consolida sua posição de ter sido sempre, ao longo da história de Timor-Leste, uma parceira fiel do tétum, hoje também considerada língua oficial da República Democrática de Timor-Leste. Discorre-se, ainda, acerca dos esforços que vêm sendo realizados pelas diversas instâncias de âmbito governamental e acadêmico visando à reintrodução do português e ao posterior desenvolvimento de estudo e descrição das outras línguas locais.